quarta-feira, maio 10, 2006

A salva de palmas

Boa noite, súbditos.

Ontem, na magnífica cidade de Aveiro, ocorreu um incidente do qual poderia perfeitamente ter resultado um acidente.

Desta história constam alguns intervenientes: Genoveva, Julie Divine e o carro da Julie Divine, um comercial verde-quase-esmeralda.

Genoveva não possui carta de condução, mas gosta muito de conduzir, de dar aqueles passeios domingueiros, especialmente ao volante de um carro comercial com uma cor quase-foleira e ao lado da sua mais que tudo, a sedutora Julie Divine. É certo que terça-feira à tarde não se deve confundir com um domingo, mas tudo se propiciou a que um passeio deste género fosse dado. O sol entrava pelos vidros entreabertos do carro de dois lugares e o rádio subversivo insinuava-se com a batida de Goldfrapp. A praia da Barra chamava as duas, a maresia, quase-longínqua, apelava à sua presença, pelo que elas não conseguiram resistir. Por sua vez, Julie Divine não conseguiu aguentar o charme inconfundível de Genoveva a percorrer as suas pernas com uma quase-agressividade e deixou-a assumir a condução do carro. Tudo correu esplendidamente na primeira etapa do passeio. Agora pões uma quarta e largas a embraiagem, dizia Julie. Assim, minha babazinha de camelo? Assim mesmo, conduzes tão bem que até parece que tens mais de dezoito anos e meio.

Sentaram-se as duas a ver o mar, enamoradas. De súbito, Genoveva constata que está atrasada para um compromisso inadiável e as duas arrumam tudo à pressa e retomam o caminho de volta… com Genoveva ao volante…

Genoveva, apressadíssima, deu várias buzinadelas a um enxame de miúdos que se divertiam de bicicleta no meio da estrada e, logo de seguida, perdeu-se nas contas e, numa rotunda, ia partindo o motor, passando de uma terceira para uma primeira. Julie lançou-lhe um olhar de censura, mas Genoveva prosseguiu, impávida e serena, pela estrada fora.

Já no centro de Aveiro, Genoveva não queria parar na passadeira de peões que existe em frente ao Ria Café, mas foi obrigada a fazê-lo porque estava um homem a passar, puta que o pariu, disse ela. Mas esperem, caros súbditos. O insólito de tudo isto está no facto de Genoveva ter deixado o carro ir abaixo oito ou nove vezes, pois o piso era ligeiramente inclinado e o ponto de embraiagem, ao contrário de Julie Divine, não era nada maduro.

As duas morriam de vergonha e os carros atrás já formavam uma bichona e manifestavam o seu desagrado através de buzinadelas que Genoveva nem sequer ouvia. A esplanada do Ria Café estava repleta de pessoas e todas olhavam curiosas para o interior do habitáculo do carro comercial, até que, finalmente, Genoveva conseguiu arrancar com o carro e o alcatrão e os paralelos, fazendo chiar os pneus. A isto seguiu-se um grande aplauso de todos os clientes do Ria Café, clap clap clap.

Genoveva chegou apenas cinco minutos atrasada e, por entre múltiplos ataques de riso, despediu-se da sua amada. Até ao próximo passeio, disse ela.


1 Comments:

Blogger July Divine postou...

Hummmm escândalo de facto esta fantástica história, mas nada como vive-la na primeira pessoa e sentir de facto o cu-ração nas mãos assim como o chiar dos pneus (sim os do carro) no alcatrão...

Uma experiência única, e umas gargalhadas sem comparação...

Um dia diferente, uma aventura!

É de notar que as pessoas que vimos na esplanada (na foto), são de facto as pessoas que aplaudiram e viveram, se bem que de uma maneira bem mais lúdica, a aventura da Genoveva e da July.

Um kissão

quinta-feira, 11 maio, 2006  

Enviar um comentário

<< Home